Terminei de ler: Morreu e Não Sabia

Morreu e Não Sabia
Autor: José Manuel Fernández
Páginas: 224
Editora: Petit


Quando João descobre que seu melhor amigo está namorando Elisa, o grande amor de sua vida, fica transtornado. Sem que o casal perceba, começa a segui-los por todos os lugares- na escola, no bairro, nas ruas. Numa dessas obsessivas perseguições, às escondidas, João se distrai e, ao atravessar uma rua, acaba atropelado. Desencarnado, ele não percebe sua nova condição. Um militar, também desencarnado, vai ajudá-lo a descobrir o que aconteceu, mas o jovem só tem um sentimento- vingança.




Sabe quando você vai naquelas feirinhas de livro e uma capa te chama a atenção? Então, esse foi exatamente o caso deste livro para mim. O título pareceu bem curioso e a capa idem, então comprei sem nem ler a sinopse (sim, sou dessas...).

O livro tem uma pegada jovem e acompanha o susto do rapaz após sua morte ao descobrir que ele não mais respira. Mas, espera, estou me adiantando um pouco, deixe-me começar do início.

João, Marcelo e Elisa são inseparáveis desde a infância. Todos nasceram no mesmo ano, moram no mesmo bairro (poucas ruas de distância) e a vida toda estudaram nas mesmas classes do colégio. Disto nasceu uma grande amizade que só fez crescer ainda mais a união do trio com o tempo.

Agora, aos 17 anos, João descobriu que esta apaixonado por Elisa e decide declarar-se para a amiga, mas as coisas não correm bem como o planejado e, mesmo com o coração na mão, a moça diz que entre eles só há amizade.

É claro que o rapaz não quer perder a amizade da garota e a chance de conviver com ela, então finge aceitar bem a situação. Porém, em sua mente, ele cria situações nas quais ela o ama profundamente e vive mentiras nas quais ela é totalmente correspondida, alimentando cada vez mais os sentimentos românticos por Elisa.

O baque na vida dele acontece no dia em que, longe da visão dos amigos, vê Marcelo e Elisa de mãos dadas na cantina e olhares apaixonados. Nessa hora, João tem certeza de que foi traído pelo amigo, passado para trás de forma vil e que está sendo enganado. Isso o faz perseguir de longe o casal e acaba fazendo com que ele seja atropelado e morra no local devido a gravidade da batida do veículo contra seu corpo.

Totalmente desatento, João nem se dá conta do que aconteceu. Quando volta a si, não se lembra onde esta e o que fazia naquela avenida, decidindo-se ir para casa e esquecer o que quer que o tenha levado ao local.

A ausência de sua mãe o deixa inquieto, já que apenas os dois moram juntos ainda e são totalmente ligados. O medo de que ela esteja doente o leva ao hospital vizinho de sua casa e as situações que transcorrem daí pra frente o deixam totalmente perdido. As pessoas não parecem querer falar com ele, o ignoram totalmente e ele não consegue saber nada dela.

Sem outra alternativa, ele decide andar pelo hospital em busca de suas próprias respostas. Infelizmente é no necrotério que ele acha a solução para seu problema quando um militar se apresenta a ele e lhe dá um verdadeiro choque de realidade o fazendo saber que sua mãe está viva e bem, mas o corpo na mesa de autópsia é o dele próprio.

O início do livro tem todos aqueles elementos de suspense presente em tramas de terror. A própria figura do militar que aparece para "ajudar" João (a sua própria maneira) tem uma entrada bem dramática na trama. Mas aos poucos o tom muda de figura.

Após aceitar sua nova condição, João tem duas metas em vida, ele quer se vingar de Marcelo (aquele que ele julga ser o grande e único culpado por seu infortúnio) e consolar sua mãe por não poder estar mais ao seu lado. Entre o ódio e o amor, sentimentos tão conflitantes, João precisa entender que suas ações trazem reações adversas e que tudo na vida é uma questão de ponto de vista.

Mesmo para quem não gosta de livros com temática espirita, esse aqui é bem interessante, já que aborda um tema frequente em filmes, séries e desenhos, onde a pessoa morta tenta acertar as contas com aqueles que ficaram aqui. Eu não o comprei achando que era um livro espírita na verdade, eu só percebi isso quando me dei conta de que a editora era a mesma de outros livros sobre espiritismo que já li (e eu estava na metade deste livro,olha só, ahahahha).

Embora eu tenha marcado alguns trechos mais marcantes, que são na maioria partes um pouco mais rebuscadas, a linguagem geral do livro é bem leve e nos faz torcer para que João perceba que não esta fazendo uma escolha muito inteligente quanto ao se vingar do amigo.

Outros personagens, como o militar que vem ajudar João, vão prendendo nossa atenção também, já que toda a situação que o levou a estar morto também é uma incógnita e o tratamento que ele dá ao rapaz vai passando de irritante a algo bem próximo da amizade verdadeira.


Nota: 5 de 5

Citações marcantes:

"Com certeza emitiam com seus pensamentos ondas negativas ou positivas, segundo o caso. Nós vibramos, seja qual for o espaço em que nos desenvolvemos. Uma vez que nos sentimos atraídos por afinidades, essas vibrações produzem determinadas ondas, e aquelas que se assemelham inevitavelmente se aproximam umas das outras. Em outras palavras, o semelhante atrai o semelhante."

"Sim, em nossas dimensões existem aspectos que não são bons nem maus em si mesmos, mas dependem da intenção com que são aplicados. Em outros termos, conhecer é essencial, mas mais importante ainda é o objetivo com que se usa esse conhecimento. (...)"

"(...) há muitos seres como esses que você observou aí dentro, que optam livremente por continuar fazendo o que faziam, perpetuando-se numa espécie de espiral interminável. Em qualquer caso, conservam seu livre-arbítrio, e nada nos obriga a isso."

"(...) Chega um momento em que até a entidade mais perturbada, a mais apegada a esse tipo de rituais se cansa, se aborrece, e o desespero é tanto que, depois de infinitas jornadas fazendo sempre a mesma coisa, acaba pedindo ajuda a outros seres como eu, que não se importam em dar as boas-vindas e explicar com todo o 'carinho' a nova conjuntura a que terá que se adaptar."

"Está bem, mas leve em conta que tudo o que semear, mais tarde produzirá o fruto correspondente. (...) Apenas se lembre de que frutos doces nunca brotam de sementes amargas."



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