Terminei de ler: O Matuto

O Matuto
Autora: Zibia Gasparetto, pelo espírito Lucius
Páginas: 416
Editora: Vida e Consciência


Um matuto que não sabia ler nem escrever, herdeiro de enorme fortuna, parecia ser uma presa fácil para um advogado que planejava ludibriá-lo e para o tio do rapaz, que, julgando-o morto, pretendia ficar com sua herança.

Os fatos, porém, surpreendem a ambos.

Este romance de agradável e proveitosa leitura nos faz meditar e compreender mais as lutas da vida, encorajando-nos a manter a confiança na grande bondade e inteligência de Deus.

Lançada originalmente em 1984, a obra O matuto ganha, em sua nova edição, capa, diagramação e formato mais modernos, além de conteúdo integral revisto e atualizado.



Nota: 4 de 5

Quando era criança minha avó tinha uma coleção de livros espíritas. Entre os muitos livros dela, haviam alguns da autora Zibia Gasparetto, e ela acabou sendo a primeira autora espírita no qual eu tive contato. De lá para cá, tenho lido vários livros dela e gostado bastante do como ela trabalha com os personagens em tramas elaboradas e cheias de significados profundos, mesmo que as situações sejam muito similares as de qualquer um em seu cotidiano comum.

capa da primeira edição lançada em 1984
"O Matuto", da editora Vida e Consciência que é parceira de nosso blog, é um dos livros mais antigos e famosos da autora da autora. Ele é tão conhecido que ganhou várias reedições desde que foi laçado em 1984, mas a última, lançada no ano passado, ganhou uma capa totalmente nova (embora remeta ao personagem da antiga como você pode observar na imagem aqui do ladinho), uma diagramação diferenciada e uma atualização do texto original. Ou seja, algumas palavras mais rebuscadas foram revistas pela autora e transpostas para as de uso mais comum nesta "Nova Edição", o que, aliás, vem acontecendo com várias obras dela que estão chegando as livrarias e bancas novamente nos últimos anos.

Uma curiosidade é que "O Matuto" já chegou até a ser encenado no teatro, em uma adaptação escrita por Ewerton Castro, que trabalhou com televisão em vários canais, como (a extinta) TV Tupi, Globo e SBT. Um dos seus papéis mais marcantes na "telinha" foi o de Alexandre na novela "A Viagem" (sua mãe ou avós assistiu, com certeza), que até hoje é uma das novelas inspirada em obras espíritas mais famosas da televisão (reprisou tanto na Globo quanto "A Usurpadora" no SBT, só para você ter uma ideia, sabe?).

Em "O Matuto", Geraldo, ainda uma criança, é levado pelo pai para longe de sua mãe. Juntos, eles seguem para a cidadezinha de "Dente de Onça" e vivem em um pequeno vilarejo, sem muito contato com seus vizinhos.

Geraldo é criado como um homem do campo, vivendo do plantio e da natureza para sustentar-se. Seu pai é avesso a medicina e nunca o matriculou em uma escola, sendo assim, o português do rapaz é totalmente sofrível e a autora o deixou "assim mesmo" para que o leitor pudesse ter uma ideia do quanto a vida do rapaz foi precária.

Algum tempo após a morte de seu pai, ele segue vivendo sozinho em uma cabana pequena com chão de terra batida e pouco se relacionando com os vizinhos da roça, quando chega a sua casa um destes vizinhos com dois homens "da cidade". Um deles é um advogado, que diz representar sua mãe (que até então Geraldo acreditava ter falecido quando ele ainda era apenas uma criança) e o outro é um jornalista (que foi o responsável por descobrir o paradeiro dele, já que o próprio nome do rapaz foi alterado por seu pai para mantê-lo incólume). Mas, o que teria acontecido para esse pai fugir para tão longe com seu filho e viver de forma tão precária se eram ricos?

Geraldo mesmo admite que o pai nunca falava da mãe, mas que ele acreditava que isso acontecia por ela ter falecido e a lembrança lhe ser totalmente dolorosa. Porém ele descobre dos dois que na verdade ele fugiu e, dizem as más línguas, que foi porque a esposa o traiu. O rapaz, é claro, não acredita, mas reconhece que o pai sempre disse que mulheres não eram confiáveis e que o amor não existia, para que ele se mantivesse longe delas, pois são seres traiçoeiros e malvados, mesmo que isso não se pareça em nada com a imagem que ele guarda em sua mente de sua mãe.

capa da edição de 2011, com a adaptação
para teatro por Ewerton Castro
É com pesar que ele descobre que ela também faleceu, mas isso não faz tanto tempo assim e que ela passou sua vida inteira procurando pelo filho e acreditando piamente que um dia ele retornaria para ela. Isso o entristece e ele diz que não tem interesse em voltar para a cidade dela se não a verá.

No entanto o advogado e o jornalista tem outros planos, eles precisam que Geraldo volte para casa e que reivindique sua fortuna, já que a mãe era extremamente rica e caso ele não seja encontrado a fortuna toda irá para seu tio. Aliás, esse tio é justamente quem eles acreditam que seja o responsável por ter armado para que o pai dele acreditasse que foi traído. Então Geraldo se vê convencido a voltar e não pode deixar que o tio fique com tudo que era de sua mãe de mão beijada.

Geraldo é uma pessoa simples, ele não quer riqueza, ele é feliz em sua pobreza e até pede ajuda aos vizinhos para que cuidem de seus animais até que ele volte. Ele não quer que tudo fique para o tio, mas não pretende ficar com a herança, e isso é exatamente o que o advogado e o jornalista mais queriam ouvir. Afinal, o que poderia ser melhor do que uma fortuna na qual eles pudessem "administrar" para alguém que "não se importa com dinheiro", certo?

E é assim que o protagonista volta à cidade grande, terra de sua mãe e local que ainda habitava seus pensamentos desde sua infância. Mas ele não se veste, fala ou age como as pessoas deste lugar, então seus "novos amigos" temem que ele se perca e pedem para que fique no hotel até que falem com o juiz. Eles creem que o rapaz não terá como andar por uma cidade que deixou na infância sem se perder. Mas certamente eles não conhecem a teimosia e a coragem deste rapaz. Já que sozinho ele não só reencontra sua antiga casa, como consegue ajuda de um antigo empregado que o conheceu ainda na infância e já chega comprando a maior briga com o tio.

É muito interessante ver o como o personagem vai evoluindo ao longo da trama. Geraldo conhece outras pessoas e tenta, através delas, entender o que aconteceu no passado para que seu pai abandonasse tudo. Ele até não consegue entender o como seu pai, que ele descobre agora que foi um médico, conseguiu perder toda a fé na medicina e nunca mais clinicou, fazendo com que eles vivessem em pobreza extrema em meio ao nada.

A transformação do personagem e o entendimento da vida que ele adquiri e compartilha com vários outros que cruzam seu caminho no decorrer da trama são muito interessantes. É bacana ver o como ele vai se aplicando, estudando, se empenhando e melhorando o seu português, seus modos e seu conhecimento aos poucos. Tudo acontece de forma linear e amizades de verdade surgem na vida do rapaz, pessoas que o respeitam pelo que ele é e não por seu dinheiro, embora outras realmente se aproximem dele apenas visando lucro.

Geraldo se vê forçado a entender que todas as pessoas, sem exceção (inclusive sua mãe), são passiveis ao erro, mas que a mágoa, a revolta e a vingança não levam a nada. E, claro, há todo um motivo que envolve a tragédia que marca a vida de seus pais e as outras pessoas ao seu redor nesta vida, e esse motivo vem de uma vida anterior, onde eles adquiriram pendências e precisavam liquidá-las para seguir em evolução.

Confesso que eu gostaria bastante de ter visto ela sendo encenada no teatro, sabe? Pois toda a mensagem que o livro passa é bem interessante e bateu uma curiosidade imensa de saber o como fizeram para transpor um livro tão grande e cheio de detalhes em uma peça de duas horas de duração. Não é uma obra apenas para quem goste de livros espíritas, mas um livro que mostra o como o perdão e a aceitação de nossos próprios erros pode mudar totalmente o significado de nossas vidas (no presente mesmo) para melhor.

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